segunda-feira, 31 de março de 2008

Alcântara IV

Ainda sobre Alcântara não poderíamos deixar de falar sobre o nosso guia.

Então a ele, um post.

Com o nome dele pode-se fazer um anagrama - Caju - que ao contrário da fruta saborosa e suculenta, ele foi bem difícil de engolir e deixou um sabor ruim na boca.

Ao chegar ao cais da Praia Grande fomos comprar a passagem para Alcântara. Paramos em frente a um guichê:

- Por favor, é aqui que compra passagem para Alcântara?

- Sim, minhas lindas, é aqui mesmo e eu sou o guia.

Pagamos e aguardamos a chegada do barco. Enquanto isso ele foi muito simpático: Vocês são de onde? Alcântara tem isso, isso e aquilo. Fiquem bem ali, porque quando o barco chegar, quero que meus turistas entrem primeiro e fiquem juntos.

Ao chegar em Alcântara descemos e ele continuou muito simpático, contando fatos sobre a cidade, explicando sobre as ruínas. De repente:

- Bom pessoal é o seguinte. Como nós estamos andando para conhecer os pontos turísticos da cidade é melhor não perder tempo com o almoço. Então vocês me falam qual prato querem, tem alguns peixes, frango e carne de boi, que eu vou ligar para o restaurante. Assim enquanto vocês visitam o Museu Histórico, eu faço o pedido de vocês e quando terminarem a visita é só chegar e comer.

Da mesma forma que nós, cremos que os turistas pensaram que, por Alcântara ser pequena, não havia muita opção de restaurante e aceitaram fazer o pedido através do guia, que afinal é quem GUIA, indica lugares para os turistas.

Após a visita ao Museu dirigimo-nos ao restaurante e pasmo todos ficaram. As mesas estavam no meio de um quintal embaixo de pés de manga. Não havia revestimento no chão, era areia e havia, sim, muitos gatos. Bem próximo de onde estávamos, havia um outro restaurante coberto, com piso, música e que nos pareceu bem mais aceitável. Confessamos que não fomos perguntar o preço. No entanto, duas amigas que fizemos em São Luís disseram ter almoçado por um valor bem mais acessível num local indicado por moradores.


Depois de 53min chegou a nossa mesa arroz, feijão, bifes com cebola e salada de tomate. Isso nos saiu pela bagatela de R$35,00 (para as duas). Nem as pizzas ou self service com muito mais variedade nos saiu por isso. Uma família que estava conosco reclamou muito, pagaram cerca de R$90,00 para 5 pessoas.

O garçom, Cabelo de Fogo, realmente nos chamou a atenção pela sua irreverência e comportamento não muito comum a um garçom. Atendimento alternativo, essa é a definição, talvez pela simplicidade.


Após o episódio do almoço, conhecemos mais um pouco da cidade e então fomos para o cais embarcar para São Luís. Chegando lá, o guia:

- Então, é que eu não faço esse trabalho de graça. São R$10,00 por pessoa. Eu ando 70km de moto e tenho que voltar. Então eu peço essa contribuição.

Nós ficamos mais pasmas ainda. Pensamos que o serviço dele fazia parte da quantia que pagamos no guichê, afinal ele nos indicou onde comprar as passagens, nos informou o valor e em momento algum disse que o trabalho era a parte do que pagamos.

Depois de dizer a ele que pensávamos estar o serviço incluso no valor pago e que não tínhamos tal quantia, pagamos R$5,00 cada uma. Foi revoltante!

quinta-feira, 27 de março de 2008

Alcântara III

O barco que transporta os turistas de São Luís a Alcântara tem dois ambientes: o de cima ao ar livre. Ali pudemos constatar que estávamos a 2 graus da linha do Equador, sentadas, a perna de Raquel literalmente torrou. O outro ambiente, abaixo da gente é fechado, com ar condicionado e banheiro, mas sem a vista que tínhamos e mais fácil de enjoar.

Saímos de São Luís às 10h e levamos em torno de 1h30 para completar o percurso, balançapracá balançapralá.

Durante o trajeto olhamos para o lado e vimos um garoto de olhos fechados e cabeça baixa. Num primeiro momento pensamos que ele dormia. Mas ao ver uma garota recebendo uma sacolinha branca de um assistente do barco concluímos que eles passavam mal. O que foi confirmado pelo guia, "tem muita gente mareada lá embaixo. A fila do banheiro está enorme".

Chegamos a Alcâtara. A região é muito bonita. Área de mangue e ao fundo vê-se pés de babaçu.




Subimos a rua Jacaré, uma ladeira onde existem muitas ruínas. A rua é feita de pedras de minério de ferro e pedra sabão formando um losango que simboliza a maçonaria. No alto a vista é linda - mar, ilhas e São Luís, bem ao longe.




Visitamos a Igreja Matriz. Por fora uma contrução simples, por dentro paredes e ornamentos exuberantes.





Fomos ao Museu Histórico de Alcântara, antiga casa do Barão de São Bento, um dos nobres da região. Os senhores, que preferiam morar no continente - Alcântara-, que na época era Vila, eram donos de fazendas de algodão e engenhos de cana. Alcâtara era mais próspera que a ilha de São Luís. Esta concentrava o comércio dos produtos provindos da Vila e os serviços, em geral.

Conhecemos também o Cartão Postal de Alcântara, antiga Igreja dos Jesuítas, que hoje encontra-se em ruínas. Na praça da igreja há o pelourinho.



Passamos pela Igreja de São Francisco de Assis, de 1714, hoje em ruínas, que tem o símbolo da fraternidade na entrada; pela Igreja do Rosário dos Pretos, 1803, que apresenta um galo preto em sua torre (indício de construção portuguesa, lembrem-se dos galos presentes nas latas de azeite português).




Na época do Império, D. Pedro I prometeu visitar a Vila. Com o anúncio da visita, duas famílias influentes na região começaram a construção de duas casas para hospedar o imperador. A rivalidade era enorme, afinal quem hospedasse D. Pedro poderia ganhar um título de nobreza.

Alcântara começa a declinar no fim do século XIX, por vários motivos, dentre eles: abolição da escravatura, exploração excessiva do solo, recuperação do cultivo de algodão nos EUA depois da Guerra de Secessão, fim da Companhia Geral de Comércio.

Algumas das construções foram tombadas pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional - IPHAN - em 1948. Na parte histórica da cidade não se vê fios de eletricidade, nem de telefone. Eles são embutidos, por baixo das ruas.

Por fim fomos conhecer a Casa da Cultura Aeroespacial. Lá assistimos a um vídeo sobre as atividades da Base de Alcâtara, localizada a 14Km da cidade. Uma das operações Cumã II, realizada em julho de 2007, lançou um foguete que ficou 6min em situação de microgravidade, gravidade quase zero. Depois ele caiu perto da Ilha de Santana, a 45min de helicóptero da base de Alcântara. Isso quem nos contou foi um soldado que não quis dizer o nome.



Voltamos ao cais, onde embarcaríamos para São Luís. Quando o barco chegou houve um empurra-empurra e bate boca, pois havia mais gente que a capicadade permitida e ninguém queria esperar pelo próximo barco. Devido a situação tensa, resolvemos nos afastar e esperar pela próxima embarcação, que chegou às 18h. Esperamos cerca de 2h.

A volta para São Luís foi uma aventura. Anoiteceu e o mar estava agitado. Raquel, assim como outros turistas, ficou com muito medo, pois várias vezes pensou que o barco ia virar. Andréa, mesmo com os fortes balanços do barco, manteve-se mais calma. Não estávamos com coletes salva-vidas, só alguns passageiros. Os turistas, um seguido do outro, chamavam os assistentes da embarcação para perguntar se aquela situação era normal, se estava tudo bem. E eles respondiam: "o mar está um tapete, você precisa em agosto, ai sim ele é agitado". Mesmo assim alguns não escondiam um certo pânico.

Quando chegamos em São Luís, uma das passageiras, ao pisar no cais, pulou, vibrou e disse: "Nunca mais faço isso. Nesse barco nunca mais".

Alguns dias depois, durante uma entrevista, ouvimos: "o que? Vocês foram de barco para Alcâtara? É muito perigoso. Aqueles barcos estão sucateados". E para terminar, duas amigas que estavam na mesma pousada que a gente e fizeram o passeio: "Deus me livre, aquilo é um perigo".

segunda-feira, 24 de março de 2008

Alcântara II

Loira, estatura média, máquina fotográfica de dar inveja, muito bem vestida. Chegou ao cais da Praia Grande acompanhada de seu marido e suas duas filhas pequenas. Ela fotografou, andou e dirigiu-se a seu marido na fila para subir no barco que nos levaria a Alcântara dizendo: "Fala que criança tem prioridade".

Na verdade não havia fila, era um aglomerado de pessoas tentando entrar mais rápido no barco para pegar um bom lugar. Havia todas as idades ali. Senhoras e outras crianças. Com aquela desorganização o melhor a fazer era manter-se calmo e aguardar.

Passado um tempo, a fotógrafa: " ai que povo mal educado".

Embarcamos.

terça-feira, 18 de março de 2008

Alcântara I

Domingo, 13/01, decidimos conhecer a famosa Alcâtara.

Enquanto os turistas aguardavam o barco que os levaria à ilha, um som e um cheiro nada agradáveis tomaram conta do Cais da Praia Grande, próximo ao Centro Histórico de São Luís, onde nós estávamos. Uma embarcação, parada ali perto, exalava o cheiro de chiqueiro, assim como os porcos que estavam em terra firme, que grunhavam constantemente. Havia também bodes e galinhas.




Uma turista incomodada com a situação comentou conosco: "Isso deveria ser denunciado para Vigilância Sanitária". Definitivamente não é nada atrativo ver animais amarrados, sujos e aflitos sendo carregados do barco para um veículo que os transportariam para feiras e restaurantes. Os bastidores, as etapas anteriores a um bom prato às vezes chocam. Mas deixando a primeira impressão de lado fomos conversar com os tripulantes da embarcação.

Carlos Ferreira, 32, de Bacurituba, MA, e Mariano Costa, 53, de São João Batista, MA. Trabalham no barco Duas Nações que sai duas vezes por semana, às quartas e aos domingos, de Cajapió, MA, rumo a São Luís.



Cajapió, segundo eles, é uma cidade de 10.000 habitantes, basicamente agricultores e pescadores. Do município até a capital do Estado são 7h de viagem de barco.

Os dois homens nos contaram que moradores das cidades vizinhas a Cajapió levam para esta porcos, cabras, manga, tamarindo, pato, galinha, peru e vendem para alguns tripulantes do barco, que são como atravessadores.

O Duas Nações transporta passageiros no compartimento de cima, a capacidade é de 65 pessoas, e na parte inferior, levam os animais, em torno de 200, juntamente com frutas.



Carlos e Mariano chegam a passar 6 dias fora de casa devido ao trabalho, mas mesmo assim adoram o que fazem, pois segundo eles, visitam muitos lugares, aportam em outras cidades além de São Luís, e conhecem mulheres - "nós gostamos de diversão".

Os dois compradores, transportadores e vendedores de produtos não são casados. Mariano diz viver com uma mulher, mas não é nada oficial.

João Lindoso, 61, pilota o barco há 4 anos. Fez curso pela Marinha há 25 porque ama o mar, "meu pai tinha um barco a vela e eu quis fazer o mesmo, viver no mar".



João compra animais em Cajapió e vende em São Luís, onde mora há 30 anos com a família. Ele tira por mês, assim como Carlos e Mariano, cerca de R$400,00. Conta, todo orgulhoso, que tem uma filha tenente na Espanha, "meus filhos não seguiram o pai, eles estudaram e seguiram o caminho deles".

segunda-feira, 10 de março de 2008

Colocando os pingos nos Is

A idéia inicial era viajar e escrever ao mesmo tempo, ou seja, conhecer, visitar, entrevistar e postar, mas um pequeno detalhe não permitiu a concretização da empreitada dessa forma. O detalhe foi R$.

É gente, pagar diária e horas em lã para criar e postar sairia do nosso orçamento. E escrever entre as visitas não era possível, pois andávamos muito até chegar aos lugares que visitamos. Há tanto para ver e dialogar que tivemos que selecionar alguns e ainda assim, mesmo escolhendo, ainda não sobrava tempo.

Ah! claro. E a gente tinha que dormir e comer também. E pesquisar, e muito, os preços para realizar tais “ações”.

Por isso paramos de postar. Nossa viagem terminou antes do esperado também, devido a um projeto da faculdade Livrevista.com. Tivemos que voltar para atualizar o projeto.

Mas depois de tais explicações queremos dizer que vamos postar novamente. Esperamos que acompanhem o relato de nossas aventuras.

Agradecemos a compreensão.

Abraços, Andréa e Raquel.