quarta-feira, 30 de janeiro de 2008

Casa do Maranhão


É um espaço que guarda um pouco das preciosidades das festas maranhenses. Foi criado em 2002 para mostrar a cultura do Bumba-meu-boi. A Casa faz parte do projeto Reviver, idealizado na década de 70, que visa a restaurar o Centro Histórico de São Luís e preservar assim construções da época do Império, além de transformar alguns prédios em museus que contam por meio de artesanatos, imagens, bonecos, esculturas, quadros a riqueza cultural do Estado.



No piso inferior há uma lojinha de suvenir e uma sala destinada ao Reisado Careta - dança popular profano-religiosa, na qual festeja-se a véspera e o Dia de Reis. No período de 24 de dezembro a 06 de janeiro, um grupo formado por músicos, cantores e dançadores vão de porta em porta anunciando a chegada do Messias e fazendo louvações aos donos das casas por onde passam e dançam. O Reisado compõe-se de várias partes e tem diversos personagens como o rei, o mestre, contramestre, figuras e moleques. Os instrumentos que acompanham o grupo são violão, sanfona, ganzá, zabumba, triângulo e pandeiro.



O grupo de reisado recebe o nome do criador. Em São Luís não tem careta, são personagens mais parecidos com o auto de Natal.



No piso superior, num espaço bem amplo há várias salas e vitrines que exibem o acervo sobre Bumba-meu-boi. A guia Delma Pinheiro, 22, universitária que faz estágio na Casa, nos acompanhou. Ela realmente teve muita paciência, porque foi questionada inúmeras vezes - "mas como assim?", volta só um instantinho pra eu anotar" - enquanto ela explicava para nós, vários grupos de turistas passaram pela gente.




A estudante nos disse que o Bumba é a principal festa do Maranhão e que acontece em várias partes do país, como no Pará, onde recebe o nome de Boi Bumbá.




A festa está ligada ao ciclo do gado e também aos santos - São João (padroeiro da brincadeira), São Pedro, São Marçal (que, na verdade, não é santo).






Há grande discussão sobre a origem da festa no Brasil, alguns dizem que foi no século XIX em fazendas do Nordeste, baseada no Boi de Canastra - uma festa típica de Portugal que satirizava as touradas espanholas. No ínicio, a festa era vista como "coisa de arruaceiro". Segundo Delma, ela era praticada só em áreas delimitas, pois era bem popular e irritava a elite. Chegou a ser proibida pela Igreja Católica, mas depois foi aceita devido a grande popularidade que tinha.

A brincadeira se divide em quatro etapas. A primeira consiste nos Ensaios. É a fase de organização. Começa Sábado de Aleluia e vai até 13 de junho (dia de Santo Antônio). Nesse período confeccionam-se os instrumentos musicais e as vestimentas dos participantes, a cada ano mudam-se as estampas. É tudo artesanal, só quem borda tem acesso às vestimentas, elas são mantidas em sigilo. As toadas (letras das músicas) também são elaboradas dependendo do tema escolhido por cada grupo. Elas também mudam ano a ano. Quem as canta é normalmente o presonagem do dono da fazenda, conhecido por Amo. Cada grupo tem de 30 a 200 participantes.



A segunda fase é o Batismo do Boi. Depende da religião dos participantes, pode ser numa igreja, num terreiro. Acontece um ritual simbólico que se acredita que é para dar sorte, para nada sair errado. Acontece de 23 para 24 de junho (24 que é dia do padroeiro da festa) e durante o batismo apresentam-se o padrinho e a madrinha, deixando o boi de ser pagão para se tornar cristão.



A terceira fase - das Apresentações nos arraiás - é mais forte no mês de junho, época das festas juninas. Acontece da seguinte forma: o boi, personagem principal, fica no centro da roda e ao redor dele as pessoas com vestimentas típicas dançam, cantam e tocam. Quem sustenta o boi (fica embiaxo da vestimentas e do suporte, este é feito da fibra do buriti, que é leve, além de ser uma árvore abundante no Maranhão) é chamado de miolo ou tripa. Esta posição é passada de pai para filho.



Segue-se então a quarta e última fase, a Morte do boi. A morte vai de julho a novembro. Cada grupo escolhe a data. O ritual dura dias, normalmente três - sexta, sábado e domingo. Mas pode durar semanas também. É a fase na qual se mata o boi, a burrinha (também personagem da festa) e derruba-se o mourão. A morte é uma festa - o boi foge para a casa da madrinha, depois o acham, amarram-no no mourão e o matam. Quando ele é morto aparece o sangue, representado pelo vinho que é segurado pelo miolo e derramado nessa hora. Mas não é de todo derramado, pois as pessoas o bebem para dar sorte. Acredita-se até em poder de cura. O boi é dividido em partes e quem fica com a cabeça normalemente é quem patrocina a festa no ano seguinte. Depois come-se e bebe-se.




As brincadeiras são mais fortes no interior do estado e dependendo da localização assumem um sotaque (estilo) diferente.

São cinco os estilos:
Matraca ou da Ilha - tem forte influência indígena. Usa-se muita pena, como pode ser visto no Caboclo de Pena. O instrumento comum é o pandeirão, coberto com couro de animal, tem que esquentar o couro antes de tocar. Hoje utilizam material sintético para cobrí-lo também.





Zabumba - mais parecido com a cultura africana. Personagem típico - Caboclo de Fitas - usa um chapéu no formato de um cogumelo que apresenta muitas fitas. O número de fitas no chapéu mostra quanto tempo a pessoa participa da brincadeira, quanto mais fitas, mais anos. Quanto ao som, dize-se que a batida da percussão é mais forte que dos outros sotaques. É encontrado mais no oste do Estado.


Costa de Mão - é um estilo mais raro, seu nome deve-se aos pequenos pandeiros tocados com as costas da mão. Possui um bordado mais rico e é encontrado em Cururupu, oeste do Maranhão.



Sotaque de Orquestra - incorporam instrumentos de orquestra, é mais lírico, não dançam em rodas como os outros e sim em retângulos. É o mais luxuoso, mais estilizado e por isso, mais apresentado aos turistas, segundo a guia. Praticado perto dos Lençóis Maranhenses.




Sotaque da Baixada - mistura fitas e pena. Personagem principal: Cazumbá, cuja função é espantar os maus espíritos dos participantes, por isso sua máscara é bem feia. A Baixada fica perto da Ilha de São Luís, um pouco abaixo.




Existe ainda o Boi de Timon - é uma variação que apresenta um ritmo mais sertanejo, parecido como o do Piauí. É mais frequente perto de Teresina.

segunda-feira, 28 de janeiro de 2008

MARANHÃO

Estado que parece ter o Amazonas e o Nordeste dentro de si, devido ao sincretismo de paisagens, pessoas e culturas.

Estado de Imperatriz, de Santos, de negros, de franceses, portugueses, indígenas. Estes últimos que lhe dão o nome - MARANHÃO - em Tupi, mar revolto.

Terra de gente receptiva, hospitaleira, do reggae - jamaica brasileira. Terra do Sarney, terra de Gonçalves Dias, dos Lençóis, do Porto do Itaqui, do Bumba meu boi, do tambor de crioula, da base de Alcântara, de Jesus (calma, o refrigerante), do cuchá, da caipiveja. De buritis, babaçus, carnaúbas.

Terra cuja capital, assim como em Santa Catarina e Espírito Santo, é uma Ilha. Ilha do amor, do carnaval de rua, onde surgem as paixões secretas.

São Luís, cidade dos azulejos, dos leões nos Palácios, das ladeiras, da arquitetura encantadora, do velho e do novo, do artesanato, das janelas.

São Luís, cidade patrimônio cultural da humanidade, dos museus, das pedras de cantaria, de Aluísio Azevedo, Ferreira Gullar, Josué Montello, Alcione, Zeca Baleiro.

A primeira cidade que escolhemos conhecer.











Algumas fotos nos foram cedidas por Holger, um biólogo alemão que atualmente vive no Chile e que conhecemos em São Luís.

quarta-feira, 16 de janeiro de 2008

Primeira Voz Delápracá

Pele morena, cabelos escuros lisos, olhos castanhos ligeiramente puxados, estatura baixa, enfim, traços indígenas marcantes. Entrou no ônibus em que estávamos (Goiânia - Santa Inês) acompanhada de duas filhas, uma irmã e uma sobrinha. Sentaram-se do nosso lado. Falantes entre elas, mas reservadas para com os outros. A irmã e as duas filhas sentaram em dois bancos, lado a lado, e logo atrás, ela e a sobrinha.

Após algum tempo a filha mais nova começou a olhar para nós, pequenas olhadelas de curiosidade e simpatia que resultaram em um tchau de nossa parte. E pronto, estava estabelecida a comunicação. Num primeiro instante, apenas com linguagem não-verbal, eram gestos de um lado e sorrisos de outro. Mas uma criança olhar muito para alguém faz com que o adulto desconfie. Assim a irmã, tia da garotinha, se virou, nos cumprimentou com um sorriso mais reservado.

Começamos a falar com a mulher de traços de um Brasil não tão reconhecido. Ela nos contou que nasceu em Pinheiro, na baixada maranhense, mas mudou-se com o pai para Ariquemes, Rondônia. O motivo da mudança foi que o pai não conseguia emprego em Pinheiro, pois segundo nossa interlocutora, o município não oferece oportunidades.

Em Rondônia eles ficaram. Em Rondônia ela casou. Em Rondônia ela teve duas filhas. Agora ela viajava com parte da família para visitar a avó que ficou na sua cidade natal. "Fazia tempo que não ia para Pinheiro, porque a estrada é longa e muito ruim".

A garotinha atenta à conversa, passado um tempo, centrou os olhares para si. Começou a cantar e a sorrir devido ao público que observava sua expressão musical.

As mulheres nos acompanharam até Vitória do Mearim. Na despedida, acenos e votos de boa viagem trocados principalmente entre a garotinha, Emily Eduarda, e nós.

sexta-feira, 11 de janeiro de 2008

Delápracá

Planos prontos. Raquel tinha viajado até Ribeirão Preto, de lá íamos com um ônibus direto para São Luís. Ao chegar à rodoviária de Riberão, às 15h do dia 07/01/08, vimos que nossos planos de pegar o ônibus que saía da capital do Agronegócio para São Luís às 21h30 pela empresa Itapemirim não se concretizariam - passagens esgotadas. Lugar só para o outro dia. Junto com nossas famílias, começamos a procurar outra empresa, encontramos uma que ia até Goiânia. Compramos, poltronas 33 e 34. Embarcamos rumo à capital de Goiás em um ônibus leito, às 22h50. A despedida até que não foi tão difícil, mesmo vendo estampado nos rostos de pais e irmãos a preocupação por deixar as duas "loucas", "revolucionárias", como fomos chamadas por alguns familiares, saírem de casa com mochilas rumo ao Nordeste do país.

Sentamos ao lado de um lugar bem frequentado no ônibus, o banheiro. Ainda assim, dormimos quase a viagem toda. Vimos entrar no Estado de Minas e depois acordamos, às 8h30 do dia 08/01, em Goiânia, cidade que nos pareceu muito bonita, mesmo tendo apenas visto ruas e construções de dentro do ônibus.

Na rodoviária da cidade fomos atrás de passagens para São Luís, nosso destino inicial. Pesquisamos. Funcionários nos abordavam fora dos guichês: "Para onde vocês vão?", vozes brigavam entre si. Escolhemos uma na qual o vendedor, que inicialmente nos confundiu com inglesas, pois Andréa disse "sorry", nos convenceu (pelo preço, claro) a ir para Santa Inês, no Maranhão e de lá seguir viagem para São Luís.

Saímos de Goiânia às 10h do mesmo dia. Não era tão confortável como o primeiro, mas tinha ar condicionado, água e banheiro. Sentamos nas poltronas, mais uma vez perto do banheiro.

O almoço foi em Jaraguá, GO, em uma churrascaria bem simples. Na saída, uma surpresa, em frente ao caixa do restaurante, um porta-retrato com o seguinte certificado: A churrascaria Jaraguá foi eleita a melhor churrascaria da cidade. O próximo trecho, considerado pelo guia da Quatro Rodas como estrada precária, tinha muitos buracos, ondulações e não havia acostamento. O ônibus balançava bastante, além das freadas constantes, pois era pista simples e com muitos caminhões. Ao norte de Goiás, a estrada melhorou. Ainda bem!


Seguimos viagem até Gurupi, no Tocantins e depois paramos para jantar em Barrolândia, TO. Depois do jantar, seguimos viagem. Eesse trecho foi meio difícil, pois a porta do banheiro não ficava fechada, batia muito e a claridade do banheiro atrapalhava quem queria dormir. Um dos passageiros passou mal e nos deixou meio enjoadas também. Mas enfim, depois de uma noite não muito agradável paramos em Colinas do Tocantins, Araguaina (TO), Imperatriz (MA). Em Buriticupu (MA) descemos para almoçar. A churrascaria Asa Branca - The best of , segundo um funcionário - era muito simples, mas um pequeno detalhe atraiu nossa atenção: a comanda tinha vários valores já anotados e rabiscados por cima - pensamos que esse tipo de reutilização de comandas é uma forma interessante e diferente de preservar o meio ambiente.

Mas não ficou nisso. Buriticupu gerou muitos comentários entre nós mesmo muito tempo depois de termos deixado a cidade. A parte que conhecemos é muito pobre e suja. Não há asfalto e a terra é bem alta e fofa, não é assentada. As pessooas são bem humildes, há muitas crianças vendendo laranjas, milho e comidas típicas.


Depois do almoço, seguimos viagem até Santa Luzia e chegamos a Santa Inês às 13h45. A estrada entre essas duas cidades está em boas condições, mesmo não tendo acostamento e sendo pista simples. O problema para uns (enjôo para Raquel) e diversão para outros (Andréa) é que ela apresenta muitas curvas para direita e esquerda e subidas e descidas, com ribanceiras ao lado da rodovia - qualquer montanha-russa do Bush Gardens, que não tenha looping, perde longe em adrenalina.

Em Santa Inês compramos passagens para São Luís e embarcamos num ônibus, que, segundo o funcionário do guichê, era "um carro bom, novo". O ônibus não tinha ar condicionado, nem água e nem banheiro e estava em condições bem precárias. Saímos às 14h30. A estrada era péssima, tinha muitas crateras e o que mais se via eram veículos fazendo zigue-zague para tentar desviar ou não passar muito dentro dos buracos. Além das freadas bruscas. Paramos em várias cidades entre elas Vitória do Mearim, Arari, Miranda do Norte. O motorista descia e chamava as pessoas, e às vezes até tinha que procurar passageiros pelas cidades que eram bem humildes.


Anoiteceu e, enfim, chegamos a São Luís. Na rodoviária pedimos informações e as pessoas foram muito solícitas. O rapaz que trabalha na central de informações ao turista ligou em várias pousadas e hotéis para pesquisar preços, nos forneceu mapas e cartões. A qualidade do serviço prestado na rodoviária nos deixou boquiabertas, dá-se muita atenção aos visitantes.

Assim terminou a primeira etapa da nossa viagem. Chegamos à capital maranhense após quase dois dias de viagem.


Durante todo nosso trajeto ficamos encantadas com as paisagens. São lindíssimas, diferentemente das construções que vimos, muito precárias. São muitas casas de barro cobertas com folhas de coqueiro, as conhecidas casas de taipa. Não vimos seca, afinal a estrada margeava o Estado do Pará e nessa época do ano chove consideravelmente.


Às margens da estrada vimos também muita extração de madeira e carvoarias. Algo que nos chamou a atenção foi a dimensão de construções evangélicas em meio a falta de estrutura de residências - casa de chão batido, com extensão reduzidíssima, muitas vezes sem energia elétrica.

quinta-feira, 10 de janeiro de 2008

Este blog não nasceu blog, nasceu ideal. Nós não nascemos jornalistas, nascemos brasileiras.

Somos estudantes de jornalismo da Unesp de Bauru rumo ao último ano de faculdade.

Decidimos, inspiradas em um dos criadores do Novo Jornalismo, Truman Capote, criar este blog. Mas, diferentemente do grande escritor e jornalista, não vamos atrás de um fato, vamos atrás de lugares e seguiremos uma vertente mais radical do Novo Jornalismo, que é o Jornalismo Gonzo, praticado por Hunter Thompson.

A idéia é, como propõe o Gonzo, passar por experiências, estar em contato com os atores das histórias que vamos contar, conhecer um pouco mais a fundo tais personagens e, então, escrever.

Nossas postagens serão carregadas de subjetividade, contrárias à imparcialidade e distanciamento do jornalismo clássico.

Será o nosso estágio, só que fora de uma redação e sendo, nós mesmas, editoras, repórteres, fotógrafas, diagramadoras, enfim, todas as funções presentes no organograma de um veículo de comunicação.

Esperamos que acompanhem nossa trajetória que começou na Rodoviária de Ribeirão Preto, SP, às 22h50min do dia 07 de Janeiro de 2008. Destino - São Luís, Maranhão.